Publicação: 02/01/2011
Moradores de um prédio de seis apartamentos no Bairro Buritis discutiram, em reunião, quais providências poderiam tomar para evitar situações como o arrombamento que acontecera em uma das unidades, à luz do dia. Sem saber, falavam das premissas básicas do projeto Rede de Vizinhos Protegidos, implantado pela Polícia Militar. Só em Belo Horizonte, estima-se que já existam mais de 5 mil redes e o projeto está se expandindo para o interior e outros estados.
Na discussão, os moradores do Buritis tentaram reconstituir os passos dos arrombadores: acionaram o interfone aleatoriamente, para saber qual unidade estaria vazia; usaram alguma artimanha para conseguir que alguém abrisse a porta da rua; entraram sem alarde, arrombaram o apartamento que visavam e saíram com o produto do roubo pela porta da frente, sem que ninguém percebesse.
É a situação típica em que, segundo o tenente-coronel Idzel Fagundes, comandante do 49º Batalhão da Polícia Militar e idealizador do projeto das redes, estão presentes as três circunstâncias do que ele chama de Triângulo do Crime: a vítima em potencial, desatenta e desavisada; o infrator motivado e o local vulnerável, com ausência de polícia. "Para o crime ocorrer, é necessário o somatório das três pontas do triângulo", explica o oficial. A rede, segundo ele, tem o objetivo de criar dificuldades para a consumação do delito.
"Com pequenas dicas de segurança, o crime pode ser evitado", garante. As providências imaginadas pelos vizinhos do Buritis vão nesse sentido. Eles decidiram pôr alarme para o caso de a porta permanecer aberta mais tempo que o necessário, fizeram entre si recomendações de atenção redobrada, com orientações a moradores, faxineiras e domésticas, e concluíram que um precisa conhecer mais os hábitos dos outros, para perceber qualquer situação anormal.
A ideia é exatamente que todas as pessoas participem. O grupo, com o apoio da polícia, cria estratégias para identificar o risco e avisar a polícia. "Não é a polícia que vigia, são os moradores", diz o tenente-coronel Fagundes. As alternativas de defesa solidária surgem à medida que a comunidade desperta para a segurança pública. %u201CTudo pode ajudar: barulho, cerca elétrica, grades. A soma dos esforços vai contribuir para melhorar a segurança%u201D, afirma o militar.
Redução dos crimes
Ele garante que, onde há redes funcionando efetivamente, a criminalidade chega a diminuir em até 80%. "A gente cria uma sensação de segurança nos participantes", avalia o tenente coronel. Para ele, a comunidade é muito mais importante no processo do que a polícia.
A PM se dispõe a mandar representantes para participar de reuniões de comunidades que desejem implantar a rede. Há orientações básicas aplicáveis a todas as situações, mas existem também especificidades de cada local que permitem ou demandam a criação de estratégias que serão definidas pelos militares e pelos moradores, que conhecem melhor sua situação.